As invasões holandesas (1) Holandeses na Bahia A lavoura de cana de açúcar foi, desde o século XVII, a mais importante atividade econômica da Colônia. A região nordestina, em especial Pernambuco, era o grande centro produtor. A lavoura canavieira foi implantada no Brasil com a participação de comerciantes holandeses que forneceram parte do capital necessário ao cultivo e detinham a exclusividade do refino e distribuição de açúcar nos mercados mundiais. No Engenho produziam-se os pães de açúcar que eram transportados nas Urcas (grandes navios de carga) pelos flamengos até a Holanda onde o açúcar era refinado e re-exportado para os países consumidores. Entre 1580 e 1640, Portugal e Espanha estiveram unidos (União Ibérica). Os Países Baixos estavam em guerra contra a Espanha desde 1568 (a Holanda era dominada pelos espanhóis). Em 1579 conseguiram a independência das chamadas sete colônias do norte. Em represália, uma das primeiras medidas do governo espanhol foi retirar os holandeses os privilégios de refinação e distribuição do açúcar brasileiro o que significou, para aquele país, um imenso prejuízo com os investimentos feitos e a perda de uma parte considerável das suas exportações. Os comerciantes holandeses, dispostos a recuperar o controle da produção e distribuição do açúcar, fundaram em 1621, a WIC (West Indische Compagnie), ou Companhia das Índias Ocidentais., que organizou uma expedição militar para atacar a mais importante cidade do Brasil, Salvador da Bahia de Todos os Santos. Em Dezembro de 1623, partiu da Holanda uma esquadra com 26 navios, 450 canhões e 3300 homens. As forças navais estavam sob o comando do Almirante Jacob Willekens e as tropas terrestres eram lideradas por Jan Van Dorth. A esquadra chegou a Salvador em 8 de Maio de 1624. Na manhã seguinte desembarcaram próximo à cidade que foi tomada no dia 10. O governador português Diogo de Mendonça, que tinha apenas 80 soldados pagos para defender a cidade, rendeu-se e foi enviado preso para a Holanda, junto com 3900 caixas de açúcar. Durante dias os invasores pilharam a cidade. Se os portugueses se renderam o mesmo não aconteceu com os brasileiros. Quem pode fugiu para as matas em volta da cidade, onde começou a se organizar a resistência. Em 1625, uma esquadra portuguesa com 52 navios, 1185 canhões e 12566 homens chegou a Salvador para combater os invasores. Os holandeses, acossados por terra pela resistência brasileira e bloqueados pelo mar, renderam-se. Esta foi a primeira, mas não foi a última tentativa holandesa de conquistar o nordeste açucareiro. (2) Holandeses em Pernambuco. . Engenho de cana-de-açúcar em Pernambuco. Franz Post. A invasão a Salvador significou um grande prejuízo para a West Indische Compagnie. Era preciso recuperá-lo a qualquer custo. Com o butim obtido na apreensão de uma grande carga de prata (Os espanhóis exploravam minas de prata no Peru e Bolivia. Transportada para a Europa em imensos Galeões, eram presa fácil para os famosos piratas que agiam, principalmente, na região do Caribe),, os holandeses organizaram uma nova tentativa para conquistar o nordeste açucareiro. O alvo da nova investida foi a Capitania de Pernambuco, o maior centro produtor da Colônia, contando com cerca de 130 engenhos, mas muito mal defendida. Em 1629, partiu da Holanda uma nova esquadra, com 67 navios, 1170 canhões e cerca de 7000 homens, comandada por Hendrick Corneliszoon Loncq. Em 15 de fevereiro a vila de Olinda foi atacada e apesar da heróica resistência do governador, foi facilmente ocupada. No início do mês de Março os holandeses dominavam Olinda, Recife e a Ilha de Antonio Vaz. Em 14 de Março de 1630 os holandeses organizaram um novo governo para a colônia que chamaram de "Nieuw Holland" (Nova Holanda). Os brasileiros, comandados pelo governador Mathias de Albuquerque, iniciaram a organização da resistência. Construíram pequenas aldeias fortificadas ao redor do Recife, o mais importante foco de luta era o Arraial do Bom Jesus. A resistência brasileira impediu que os estrangeiros tomassem o Forte de Cabedelo (Paraíba) e o Cabo de Santo Agostinho. Em Maio de 1631 os holandeses conquistaram a Ilha de Itamaracá onde construíram o Forte Orange, guarnecido por 366 homens comandados por Crestofle d Artischau Arciszewski. Em 1632, Domingo Fernandes Calabar, um brasileiro nascido em Alagoas, traiu seus camaradas e passou para o lado dos holandeses. Conhecendo muito bem a região, suas informações foram extremamente úteis e permitiram que o inimigo capturasse Igaraçu, o Forte de Rio Formoso e mais tarde o Forte dos Reis Magos, a cidade da Paraíba e o Forte de Santo Agostinho (Rio Grande do Norte). Em 8 de Junho de 1635, o Arraial do Bom Jesus, foi tomado. Consolidava-se o domínio holandês. Em julho de 1635, os brasileiros conseguiram capturar Domingo Fernandes Calabar que pagou com a vida a sua traição. Em 1636 a WIC enviou para o Brasil, como Governador da Nieuw Holland, Johan Maurits, conde de Nassau-Siegen, que aqui chegou em 23 de janeiro de 1637, com 3000 soldados de infantaria e 800 marinheiros. Nassau foi um terrível inimigo. Oferecendo empréstimos a juros baixos para que os plantadores de cana recuperassem seus engenhos, venceu a resistência da elite. Concedendo liberdade de culto atraiu para Recife empreendedores de muitas partes do mundo. Construindo grandes obras públicas, como pontes e palácios e embelezando a cidade foi pouco a pouco sendo aceito pela população. Mas o Conde Nassau- Siegen, além de construtor e protetor das artes, era um guerreiro implacável. Atacou e conquistou, em 1637, o forte português de São Jorge da Mina (na costa da África), passando a controlar um dos mais importantes centros de comércio de escravos africanos (mão-de-obra indispensável para a lavoura canavieira). Em 1637 o Coronel Von Schoppe invadiu a Província de Sergipe del Rey (Sergipe). No final deste mesmo ano os holandeses tomaram a Província do Ceará e a cidade de Fortaleza. Os holandeses controlavam quase todo o nordeste. Em Abril de 1638, Nassau enviou uma força de 4600 homens para conquistar Salvador. Não conseguiram tomar a cidade e retiraram-se. Em 1640, os portugueses conseguiram livrar-se do domínio espanhol, mas a guerra continuou. Em novembro de 1641 os holandeses tomaram São Luís (Maranhão) ao mesmo tempo que conquistaram São Tomé, Angola e Benguela (atual Angola) e no ano seguinte a Costa do Ouro, domínios portugueses na África. Agora os holandeses dominavam as áreas produtoras de açúcar e fornecedoras de mão-de-obra. Na Nova Holanda tudo, aparentemente, andava de vento em popa. Centenas de funcionários da WIC (soldados, burocratas, religiosos), mercadores, artistas, artesãos, taverneiros ( a maioria ex-soldados e marinheiros que pediam baixa e se estabeleciam no local), conviviam com uns poucos imigrantes holandeses, brasileiros e judeus (em 1640 viviam no Recife cerca de 1400 judeus). Embora a resistência armada tivesse cessado, nem todos os brasileiros aceitavam o domínio estrangeiro. A primeira grande resistência começou no Maranhão que, em Outubro de 1642, revoltou-se contra os "hereges" (não católicos). Após quase um ano de lutas os holandeses recuaram. Entre 1641 e 1644 o preço do açúcar no mercado externo caiu. Os plantadores de cana, que tinham contraído grandes empréstimos com os banqueiros holandeses e a WIC, começaram a arquitetar um plano para livrarem-se dos holandeses e, com eles, das dívidas. Em Maio de 1644, depois de quase dois anos de briga com os seus patrões, Johan Maurits deixou o Brasil. A elite brasileira se sentiu órfã. Batalha de Guararapes. Victor Meirelles. Em 3 de agosto de 1645, um exército de brasileiros, armados com foices e facões, conseguiu vencer os holandeses (Batalha de Tabocas). A luta continuou até 1648, quando na Batalha de Guararapes os patriotas brasileiros (cerca de 2500 homens), liderados por Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros e Felipe Camarão, conseguiram derrotar cerca de 4500 soldados holandeses. Os brasileiros foram ajudados pela marinha portuguesa. Em 1647 chegaram ao Brasil duas esquadras. A primeira, sob o comando de Antonio Telles de Menezes, Conde da Vila-Pouca de Aguiar, com 15 navios e a segunda, com 7 embarcações, comandada por Salvador Correia de Sá e Benevides. O conflito, no entanto, só terminou em 1653. Em 20 de Dezembro daquele ano uma esquadra portuguesa com 77 navios bloqueou Recife. Sem condições de resistir, em 22 de Janeiro de 1654, os holandeses renderam-se, devolvendo ao domínio português não só Recife, mas também a Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Itamaracá e Fernão de Noronha que tinham ficado sob seu domínio. Em 28 de Janeiro, brasileiros e portugueses entraram triunfalmente em Recife e a WIC perdeu, definitivamente, a Nieuw Holland. . |
Esquadra holandesa (1647). |
A luta dos brasileiros contra os holandeses. |
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