Para entender melhor o texto... O Brasil de 1822 a 1889 foi uma monarquia. Em 1831 o nosso primeiro Imperador, D. Pedro I, abdicou ao trono em favor do seu filho D. Pedro que só tinha cinco anos. Em virtude da menoridade do futuro governante o país foi, de 1831 a 1840, governado por Regentes (autoridades escolhidas para governar em nome do Imperador). Este período foi marcado por uma grande crise econômica, causada principalmente pela decadência da lavoura tradicional (cana-de-açúcar, algodão e tabaco) e grandes agitações políticas. Em muitas províncias os líderes locais desejavam a descentralização do poder (federalismo), ao passo que entre os políticos da Corte (Rio de Janeiro) predominavam os que defendiam um forte poder central(unitarismo). Em virtude da crise econômica e dos choques dos interesses políticos ocorreram numerosas revoltas internas como a Sabinada, Balaiada, Guerra dos Cabanos e no sul do Brasil a Revolução Farroupilha. Os revoltosos farroupilhas proclamaram no Rio Grande do Sul a República Riograndense (República do Piratini). Invadiram Santa Catarina e em Laguna proclamaram a República Catarinense (República Juliana). O texto relata a reconquista da cidade de Laguna que ocorreu após uma sangrenta batalha naval. É uma adaptação de um texto do eminente historiador catarinense Lucas Alexandre Boiteux, ilustre oficial da Marinha do Brasil e comandante da Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina. |
José Garibaldi não era menos ativo e idealista. Eram dois adversários equivalentes. Enquanto as forças legais se preparavam, os farroupilhas tentavam avançar. As forças terrestres de Canabarro empreenderam uma marcha em direção à vila do Desterro. Face à situação, os chefes militares legalistas preparam com grande cuidado, uma operação combinada para recuperar o centro de operações farroupilha, a Vila da Laguna, restaurar a autoridade do Império e destruir de uma vez por todas a esquadrilha de Garibaldi. Mariath concentrou em Imbituba todas as embarcações que pode conseguir. Era o porto mais perto do inimigo. As forças de Garibaldi, sabendo das movimentações das tropas governamentais, prepararam-se para a defesa de suas posições. Um antigo forte existente no sul da barra da Laguna foi artilhado com 6 bocas de fogo. Na entrada do canal da barra, foram fundeadas barcaças cheias de pedra, servindo como muralhas flutuantes e ao longo do canal os mais resistentes navios que os revoltosos contavam: Itaparica, Rio-Pardo, Caçapava, Lagunense, Seival e Sant'ana. Nas margens, 1200 homens armados os apoiavam. Espalhou-se o boato de que a entrada da barra estava fechada por correntes de ferro. Parecia impossível vencer tal defesa. No dia 14 de Novembro, Mariath partiu para o combate fazendo com que todos os seus comandantes assumissem o compromisso de combater até o limite da resistência: "sucumbir com honra quando a sorte fosse adversa" . Mariath dividiu a sua esquadrilha em duas divisões. A primeira divisão era comandada pelo 2° Tenente Manuel Moreira da Silva, o Maneca Diabo . Embarcações que formavam a Primeira Divisão: Canhoneira N 14, de 7 canhões; Lanchão N. 1, com 2 canhões, comandado por Pereira Leal; Lanchão N. 2, com 3 canhões, comandado por R. da Costa; Lanchão N. 3, com 3 canhões, comandado por Silveira; Lanchão N. 4, com 3 canhões, comandado por M. dos Santos. Estas embarcações tinham como missão forçar a barra, atacar e abordar o navio capitânia inimigo(levavam a bordo cerca de 150 soldados), romper as correntes que supostamente bloqueavam o porto e fazer "o que cada um pudesse". Seguiram, como apoio, as canhoneiras 6 com 7 canhões, comandada por Pereira Pinto e a canhoneira 13, com 6 canhões, comandada por Gama Rosa. Tinham a incumbência de bombardear o fortim e atrair o fogo inimigo. A segunda divisão era comandada por Mariath, a bordo do Eolo, era o corpo principal da esquadra: Patacho São José, comandante J. de Jesus; Brigue-escuna Eolo (capitânia), comandante Paixão; Escuna Bella Americana, comandante Houdain; Patacho Desterro, comandante Araujo; Canhoneira Bellico, comandante Vieira; Canhoneira N.16, comandante Wandenkolk. Mariah determinou também que o brigue-escuna Calliope, comandado por Castro Menezes e os patachos Patagônia e Andorinha partissem para o Cabo de Santa Marta, com a intenção de dividir a atenção do inimigo e simular um desembarque de tropas à retaguarda. No dia 15 de novembro, por volta do meio dia, o vento era a favor. Começou o ataque. Correntes não existiam. "A primeira divisão avançou rápida e resoluta, canhoneando vivamente as embarcações inimigas" Ao se aproximarem os navios de Mariah o fortim abriu fogo, seguido pela linha de navios que guarneciam a barra. Os navios imperiais entravam na barra, formavam um semicírculo dentro do porto e atiravam contra os navios inimigos, a fortaleza e os soldados que a defendiam. Seguiram-se horas de terrível destruição. "Era um verdadeiro açougue de carne humana(...) pisava-se sobre bustos separados dos corpos", afirmou Garibaldi em suas memórias . Algumas das embarcações do Império encalharam. A maioria dos navios legais ficou seriamente avariada. As baixas (mortos e feridos) chegavam a um terço dos combatentes(cerca de 300 homens). As forças farroupilhas resistiram heroicamente, mas quase todos os seus comandantes morreram. "Griggs, que comandava o Caçapava, foi partido em dois por uma metralha quase à queima roupa. Raguna, o comandante da Itaparica teve o peito varado por uma bala de canhão." A Esquadra da Marinha Imperial dominou o porto. A fortaleza continuou resistindo até o pôr do sol quando foi abandonada. Sem condições de manter o fogo, Garibaldi mandou incendiar o que restara da sua esquadrilha. A batalha só terminou à noite. Mariah havía conseguido o que parecia impossível. O coração da pátria e as páginas da História guardam para sempre os nomes e feitos daqueles que enfrentam com denodo e bravura o que os fracos temem e se acovardam, Embora a Guerra dos Farrapos não tenha terminado com este episódio, a retomada do porto de Laguna e a destruição das forças navais farroupilhas, determinou o recuo dos revolucionários para o Rio Grande do Sul e tornou impossível a expansão do movimento. Referências Bibliográficas. Boiteux, Lucas Alexandre. A tactica nas campanhas navaes nacionais. São Paulo: Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1930. |
O dia em que Garibaldi foi derrotado. |
A retomada de Laguna pela Marinha Imperial Em julho de 1839 as tropas farroupilhas invadiram o litoral sul catarinense e tomaram a cidade de Laguna que se tornou a capital de um novo Estado Independente, a República Catarinense ou Juliana . As forças terrestres republicanas, vindas do Rio Grande do Sul, eram comandadas pelo Coronel David Canabarro e as marítimas pelo capitão-tenente José Garibaldi (Giusseppi Garibaldi) que, mais tarde, se tornou líder da Guerra de Unificação da Itália. O governo da Regência tomou, o mais rápido possível, providências para barrar o avanço dos revolucionários. A então cidade do Desterro, tornou-se uma base de operações, sob o comando do Presidente e Comandante das Armas General Soares de Andréa. Como comandante das forças navais foi nomeado o Capitão-de-Mar e Guerra Frederico Mariath , oficial de grande experiência veterano das campanhas do Prata, afamado por sua impetuosidade e idealismo. |
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